sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O Rio de MInha Aldeia

"O Tejo é o mais belo rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia." Fernando Pessoa

Ao longe, por sobre o ombro do Hotel Globo, ilumina-se o Rio Sanhauá ao por do sol. Acaricia sonolento as suas margens e a cidade de seu berço: Pa´ra e a´iba que a nomenclatura tupi diz ser um “rio mau”, impraticável, e outros o chamam de “rio que é braço de mar”. A cidade histórica é sua guardiã. Recuada no tempo, surge a Capitania Real da Parayba, em 1574. E o Rio Sanhauá, parceiro do Rio Paraíba, encanta a cidade que se abriu às suas águas, silenciosamente cúmplice de sua história. Assim é o rio da minha aldeia, belo porque é o rio que banha a novel cidade de João Pessoa, sua identidade mais recente, depois de ser liricamente chamada de Filipéia de Nossa Senhora das Neves, no ato de sua fundação, então sob o domínio colonizado de Felipe II, rei da Espanha e Portugal. Destinada a portar homenagens aos impérios conquistadores, em 1634, sob o domínio holandês, tem sua identidade mudada para Frederica, colocando o selo da Holanda na pessoa do rei Frederico Henrique. Após a retomada dos portugueses, na decantada batalha dos Montes Guararapes, a minha cidade passa a se chamar Parahyba, com muita graça histórica. Cumprindo sua metamorfose identitária, a cidade se reveste do fato trágico da morte do presidente João Pessoa, em 1930. Se a cidade se reveste de novos signos, o Rio Sanhauá apenas contempla essas mudanças. Acompanha também o malogro de suas puras nascentes. Agredido pela desordenada expansão urbana, ele clama por vozes que o ouçam e lhe minorem a degradação. A formação vegetal de sua mata ciliar está quase que totalmente perdida pela ação danosa de sua população ribeirinha que, ao provocar o assoreamento, comprime suas margens, turva suas águas e impede a biodiversidade. Seus manguezais em vias de extinção dificultam a vida dos catadores de caranguejos ao mesmo tempo em que retiram da mesa dos bares esta iguaria que faz a festa das praias domingueiras e dos turistas. Como pária inanimado, ele se irmana aos rios também agredidos que banham as capitais brasileiras. Mas os poetas desenham seu curso em palavras. Assim fala o Tietê de Mario de Andrade, o Capibaribe de Manuel Bandeira e o Sanhauá de Políbio Alves, que o traveste em signos e significados: “Sanhauá irresoluto/ emudece/ espaço Varadouro. Absoluto, arrebenta, cresce /revoltoso guerreiro. Atola/ transparente bicho/ indefeso corpo. Esfola/ fixo/ mineral/ massa impune/ pascenta póstumo/ fulgor matinal.”

5 comentários:

Linaldo Guedes disse...

é, o Sanhauá fala muito da paraíba, moema. gostei do blogue e já o linkei no meu. besos e feliz 2009

Val Andrade disse...

Tal como as cidades, entre elas a que nasce e renasce no/do "iluminado" e "sonolento" Sanhauá, vamos nosotros/as cumprindo nossas "metamorfoses identitárias" - está aí uma das reflexões a que fui levada pelo teu belo texto sobre o Rio de nossa aldeia.
bises

Thyago C. Correia disse...

Moema um feliz ano de 2009 para ti.
Sou o irmão do Juan, ele me mandou seu blog para eu conhecê-lo.
o Sanhauá vive em meus sonhos, agora morando distante alguns quilômetros ainda posso sentir na face a brisa da vista do Hotel Globo.

Um grande abraço.
Thyago C Correia

F/X disse...

Oi Moema, aqui é o Fábio.
Muito bonito esse texto sobre o Rio Sanhauá, um dia escreverei um sobre o Rio Paranoá, o lago artificial que "umidece" Brasília (onde nasci), seca que só ela.

dá uma lidinha no meu blog, o endereço é www.ficcaonaocientifica.blogspot.com.

:D

Unknown disse...

Moema,

Parabéns pelo espaço. Precisávamos conhecer um pouco das tantas produções, não é?...
Forte abraço,

Monica Maria Pereira